Os solos amazônicos são naturalmente pobres em nutrientes, de coloração amarelada, baixa fertilidade e acidez – condições pouco favoráveis à agricultura. A exuberância da floresta é sustentada pela serrapilheira, uma fina camada de solo superficial formada a partir da decomposição de folhas, galhos, frutos e animais mortos, que acrescem matéria orgânica ao solo. Exceções dentro da floresta são as várzeas dos rios, normalmente férteis devido às cheias. No entanto, distribuído por toda a floresta, existe um tipo diferente de solo, extremamente fértil, e que por décadas intrigou pesquisadores, a Terra Preta de Índio.
A Terra Preta de Índio possui propriedades muito diferentes do solo original amazônico, sendo considerado um dos solos mais férteis do mundo, caracterizado por 30 cm a 1 m (Figura 1) de matéria escura rica em nutrientes como cálcio, magnésio, zinco manganês e fósforo. Este tipo solo é encontrado no registro arqueológico há pelo menos 4.500 anos, e vem sendo manipulado pelos nativos americanos ao longo do tempo para propiciar o manejo da floresta e a agricultura em pequena escala dentro da Amazônia como forma de subsistência.
Figura 1. Escavação de Terra Preta com mais de 1 m de profundidade, destacando-se o solo amarelo típico amazônico logo abaixo. (Fonte)
Durante muitas décadas,
creditou-se a fertilidade da Terra Preta amazônica a antigas erupções
vulcânicas andinas que teriam depositado cinzas na região. No entanto, estudos recentes demonstraram que a Terra
Preta é resultado de uma combinação de matéria orgânica vegetal e animal,
vegetais carbonizados e resquícios de cerâmica depositadas continuamente. Os
antigos amazônicos realizavam o processo de formação desse solo por meio da
queima do material em baixas temperaturas, visando a produção de carvão em vez
de cinzas. O carvão, ao contrário das cinzas que são altamente lixiviáveis,
retém nutrientes, estabiliza a matéria orgânica, e é resistente à degradação
biológica. Outro fator importante, provavelmente responsável pela durabilidade
da Terra Preta, são os fungos e bactérias nela presentes, e pouco abundantes em
solos adjacentes. Estima-se que até 10% do solo da Amazônia
atualmente ainda seja de Terra Preta (Figura 2).
Figura 2. Distribuição atual da Terra Preta de índio na Amazônia (Fonte: Michael et al. 2014).
Alguns pesquisadores afirmam que uma consequência
secundária importante desse manejo em larga escala do solo amazônico pelos
nativos ao longo dos últimos milênios é que o processo de produção de Terra
Preta retém carbono no solo, evitando sua liberação na atmosfera, e assim diminuindo
os efeitos do aquecimento global. Sendo assim, é um processo de ganho-ganho,
pois além de níveis de fertilidade excelentes, consegue-se manter até 50% do
carbono do solo, e agrega-se mais um fator no combate ao efeito estufa.
A áreas de Terra Preta se
mantêm férteis, mesmo se cultivadas por séculos. As populações nativas seguem
dando continuidade ao seu uso, manejando o ambiente para sua subsistência. Os indígenas
são parte da dinâmica da floresta, e deles depende também sua manutenção e
viabilidade. Imagens de
satélite deixam isso claro ao mostrar
que as áreas de preservação de floresta se encontram dentro ou próximas às
terras indígenas. A preservação da floresta amazônica depende da preservação
dos povos que vivem nela, bem como de uma intensa fiscalização ambiental e de
investimento no estudo de seu patrimônio biológico e cultural.
A comunidade científica tem mostrado sistematicamente os riscos que corremos de uma catástrofe ambiental. Quanto custa evitá-la?
Nesta
postagem, discuto o estado do mundo e nossas perspectivas de ação diante dos
riscos crescentes de catástrofe ambiental. Esse assunto se tornou foco de
negacionismo nesses tempos da pós-verdade. Mas como diz o ditado, não adianta
tapar o sol com peneira. As evidências de que estamos nos encaminhando para uma
catástrofe ambiental são claras, inegáveis até, e o que boa parte da humanidade
está fazendo diante da situação me faz pensar em metáforas como a de um avestruz
enfiando a cabeça num buraco ou numa cena do filme Titanic, inspirada em
fatos reais (em contraste com a metáfora do avestruz), na qual se ordena à
orquestra que siga tocando enquanto o navio afunda.
A
comunidade científica tem avisado repetidamente sobre tal risco. Em 1992, a
União de Cientistas Preocupados (Union of Concerned Scientists), incluindo a maioria dos Prêmios
Nobel então vivos, publicou um aviso à humanidade (World Scientists’ Warning to Humanity). O intuito era encorajar
uma diminuição da destruição ambiental de modo a evitar substancial miséria no
futuro de nossa espécie e do restante da biosfera. Há 25 anos, os cientistas
buscavam cumprir seu papel ao expressar preocupação com os prejuízos ao planeta
Terra relativos à diminuição da camada de ozônio, da disponibilidade de água
doce, da vida marinha, das florestas, da biodiversidade, bem como à mudança
climática. Eles nos lembravam de que mudanças fundamentais eram necessárias
para evitar que nos aproximássemos de muitos limites de tolerância do planeta e
da biosfera, a partir dos quais grandes e irreversíveis prejuízos poderiam
ocorrer.
Em
2017, 15.364 cientistas de 184 países lançaram um segundo aviso (versão em português aqui). Fui um dos signatários.
Passados 25 anos daquele primeiro aviso, a análise da série temporal de dados
mostrou que, com exceção da estabilização da camada de ozônio, a humanidade
havia fracassado em realizar progressos suficientes para fazer frente aos desafios
ambientais. Antes pelo contrário, muitos dos problemas causadas por nosso
sistema de produção e consumo e nosso estilo de vida haviam piorado. Se uma
catástrofe ambiental era visível num horizonte ainda relativamente distante em
1992, em 2017 estava claro que estávamos rumando a passos largos a um estado de
transição do sistema planetário de graves consequências, com uma janela de
oportunidade limitada para alterar o curso da deterioração das condições de
funcionamento do planeta Terra, de manutenção da biosfera e de preservação de
nossas condições de vida.
Embora
não constituam de modo algum os únicos problemas que o sistema Terra agora
enfrenta, alguns desafios foram colocados em destaque naquele segundo aviso: a
trajetória de mudança climática, claramente atribuível ao aumento da
concentração de gases estufa (para quem se deixa seduzir pelo canto da sereia
negacionista, sugiro ler “Mercadores da Dúvida”, Merchants of Doubt, de Naomi Oreskes e Erik Conway, ou
“Avaliando ‘Mudança Climática Perigosa’”, de James Hansen e
colaboradores, ou assistir falas de Naomi Oreskes, no You Tube e no TED); a perda de vegetação nativa, a perda de
biodiversidade associada (correspondente a uma extinção em massa) e seus muitos
impactos sobre os serviços que os ecossistemas propiciam à humanidade; e os impactos do modelo dominante de
produção agrícola, especialmente da pecuária associada a dietas baseadas no
consumo de carne.
A
perda de biodiversidade causa especial preocupação. Desde 1998, a WWF publica a cada dois anos o Relatório Planeta Vivo,
uma compilação muito informativa e útil sobre o estado do planeta, leitura fundamental
tanto para o público em geral quanto para tomadores de decisão. Entre as muitas
fontes de informação compiladas nesse relatório temos o Índice Planeta Vivo (Living Planet Index), que fornece uma medida
do estado da diversidade biológica do planeta com base nas tendências
populacionais de espécies de vertebrados de diferentes habitats terrestres,
marinhos e de água doce.
No
Relatório Planeta Vivo de 2018 (sumário em português aqui), podemos ver que, de
1970 a 2014, a abundância média de 16.704 populações monitoradas em todo o globo,
pertencentes a 4.005 espécies, sofreu um declínio médio de 60%. No caso das
populações de espécies de água doce, tivemos o pior declínio no mesmo período
(em média, 83%). Para espécies marinhas, o declínio médio, de 1970 a 2012, foi
de 36%, conforme relatado no Relatório Planeta Vivo de 2016 (sumário em português aqui). No mesmo relatório,
vemos que, para espécies dependentes de terras úmidas (wetlands), esse
declínio foi de 39%; para espécies terrestres, de 38%; e para espécies de
florestas tropicais, de 41%.
A
situação a que chegamos é muito séria, de fato comparável a uma extinção em
massa. Este ano foi divulgado que até 1 milhão de espécies estão ameaçadas de
extinção, muitas nas próximas décadas. 5,9 milhões de espécies terrestres (9% de
tais espécies) não têm habitat insuficiente para sobrevivência a longo termo a
não ser que seja feita restauração. Na história do planeta, esta é a segunda
extinção em massa causada por seres vivos. A primeira foi causada pela evolução
da fotossíntese em cianobactérias, que levou à extinção de uma grande diversidade
de espécies anaeróbicas obrigatórias, no chamado holocausto do oxigênio. Mas, diferente de nós,
as cianobactérias não tinham opção de não realizar fotossíntese e, assim, a
elas não se poderia imputar responsabilidade pela extinção de outras espécies.
Nosso caso é muito distinto, porque à nossa espécie cabe tal responsabilidade,
dado que temos opção de fazer as coisas de modo diferente.
Mas
qual seria o problema de tal perda de biodiversidade? De um lado, essa perda se
mostra problemática pelo valor intrínseco da vida e de sua diversidade, de cada
espécie que compõe a biosfera. Valor intrínseco tem sido objeto de controvérsia,
pela dificuldade de sua mensuração, o que – argumentam alguns – dificulta que
tenha papel importante nos debates sociais, políticos e econômicos. Não podemos
perder de vista, contudo, que o valor intrínseco coloca uma questão central em
foco, a qual é perdida de vista quando nos prendemos apenas aos valores
instrumentais que a biodiversidade tem para nossas vidas: trata-se precisamente
da questão de nossa responsabilidade, como seres capazes de deliberação e
escolha, pela perda das outras formas de vida com as quais dividimos o planeta.
Mas mesmo que o valor intrínseco da vida não cale fundo no seu ser, ainda assim
você teria boas razões para se preocupar com a perda da biodiversidade, por
conta dos chamados valores instrumentais, ou, dito de outra maneira, pelos serviços ecossistêmicos fornecidos pela vida.
Afinal, sem os sistemas ecológicos e seres vivos, não poderíamos permanecer
vivos, quanto mais manter a qualidade de nossa existência.
Introduzido
em 2009, o conceito de limites planetáriosbusca definir limites
ambientais dentro dos quais a humanidade pode operar com segurança. Trata-se de
uma maneira de sumariar os desafios que enfrentamos e buscar influenciar o
desenvolvimento de políticas globais que possam propiciar uma transição para a sustentabilidade. Na última versão do modelo de limites
planetários, que pode ser visto na imagem de abertura, foram incluídos nove
limites, relativos a integridade da biosfera, mudança climática, novas
entidades (novas substâncias, novas formas de substâncias preexistentes e
formas de vida modificadas com potencial de gerar efeitos geofísicos e/ou
biológicos indesejáveis), diminuição da camada de ozônio, carga de aerossóis na
atmosfera, acidificação dos oceanos, fluxos biogeoquímicos (de fósforo e
nitrogênio), uso de água doce e mudanças nos padrões de uso da terra. O modelo
é capaz de mostrar quando a humanidade está num espaço de operação seguro em
relação a um dado limite do planeta (cor verde), quando se encontra numa zona
de incerteza, com risco crescente de ultrapassar um dado limite (cor amarela),
e quando um limite já foi ultrapassado, levando nossa operação para além da incerteza
(cor vermelha), com grande risco de que levemos o sistema Terra a operar em um
novo estado, no qual serviços fundamentais para a nossa sobrevivência e
qualidade de vida podem desaparecer. A análise dos limites planetários em 2015
mostrou que, conforme nosso melhor conhecimento, já estávamos operando para
além da zona da incerteza, em alto risco, em três deles. Ultrapassamos os
limites de integridade da biosfera e de funcionamento dos fluxos de fósforo e
nitrogênio (especialmente pelo extensivo uso de fertilizantes contendo esses
elementos químicos), a ponto de acarretar um novo estado de funcionamento. Em
dois outros limites importantes, já operamos na zona de incerteza: mudanças
climáticas e dos padrões de uso da terra.
O
modelo dos limites planetários propicia uma maneira muito útil de entender os
riscos e descompassos associados ao modo como as sociedades humanas têm operado
em sua relação com a biosfera e o sistema Terra. Ele reforça o aviso lançado em
2017 por cientistas que buscaram mostrar como estamos ameaçando nosso futuro ao
não enfrentarmos o problema do consumo dos recursos do planeta, bem como de
suas marcantes desigualdades em termos geográficos e demográficos. Não se
trata, contudo, de apenas emitir um aviso, mas de sugerir caminhos para a
solução da atual crise socioambiental, mencionando-se naquele artigo a
limitação do crescimento populacional, a reavaliação de politicas econômicas
baseadas no crescimento (por exemplo, do PIB, em contraste com modelos de desenvolvimento sem crescimento), a redução das emissões
de gases estufa, o incentivo ao uso de energias renováveis, a proteção dos
habitats naturais, a restauração de ecossistemas, o controle da poluição, o
combate à perda de animais (defaunação) e o controle das espécies invasoras.
Entre
as expectativas dos que assinaram o artigo, havia a ação sociopolítica,
incentivando-se cientistas, influenciadores na mídia e cidadãos em geral a
insistirem para que governos tomassem medidas imediatas em relação aos
problemas postos, como um “imperativo moral diante das gerações atuais e futuras
de seres humanos e das outras formas de vida”. Mas também havia uma expectativa
para cada um de nós, em nossos modos de vida: de que reexaminássemos e
buscássemos mudar nossos comportamentos individuais e padrões de consumo.
Esses
eram passos urgentes em 2017, num esforço de salvaguardar o planeta e a
biosfera de crescentes e substanciais ameaças, e são ainda mais urgentes hoje,
quase dois anos depois. Uma diferença muito importante é que uma quantidade
crescente de líderes mundiais e também da população em geral se recusa a
escutar a comunidade científica em tempos recentes. Diante da gravidade da
situação em que se encontra o planeta e, por consequência, nossa própria
existência, quanto estaríamos dispostos a investir para resolver ou mitigar os
problemas ambientais que nos desafiam?
Quanto custa a conservação de áreas
protegidas?
Por
mais que seja interessante considerar essas estimativas relativas ao custo de manter
áreas protegidas, é evidente que elas não são suficientes para fazer frente aos
desafios que o estado do planeta nos coloca. Para fazermos uma transição rumo à
sustentabilidade, necessitamos mudar nosso sistema de produção e consumo.
Avaliar
o custo da gestão de áreas protegidas nos países em desenvolvimento não
propicia, decerto, uma estimativa global de quanto custaria resolver ou mitigar
todos os problemas ambientais contemporâneos. Contudo, fornece uma perspectiva
relevante acerca da distância a que nos encontramos dos investimentos
necessários. Uma estimativa disponível na literatura estabelece
que seriam necessários 13 bilhões de dólares por ano para manter uma extensão
suficiente de áreas protegidas nos países em desenvolvimento. Esse valor está
bem além dos investimentos anuais em tais áreas protegidas. Contudo, não é
difícil mostrar que esses investimentos podem ser alcançados, sobretudo se os
compararmos com outros gastos globais. Por exemplo, 13 bilhões de dólares
equivalem a 1% do que governos de todo o mundo gastam por ano em subsídios prejudiciais ao meio
ambiente. Para usar outra comparação que mostra como, diante do estado do mundo,
temos alocado recursos financeiros de modo equivocado, esse valor corresponde a
2% do que os norte-americanos gastam por ano em
refrigerantes. Por fim, uma análise somente dos custos das áreas protegidas
não considera os benefícios que essas áreas oferecem, inclusive de ordem
econômica. Em muitos casos, a proteção de áreas biologicamente importantes pode
gerar renda que supera os custos de sua criação e manejo.
Mudar sistema de produção e consumo… Mas em que direção?
Uma
métrica muito interessante para pensar nosso impacto sobre o planeta Terra é a pegada ecológica. Ela mede o impacto das
atividades humanas em termos da área de terra e água biologicamente produtivas
necessária para produzir os bens consumidos e assimilar os rejeitos gerados por
aquelas atividades. Ela corresponde, pois, ao ambiente necessário para produzir
os bens e serviços necessários para suportar certo estilo de vida. É possível
cada um calcular sua pegada ecológica. Combinando-se a pegada
ecológica de todos os humanos, podemos calcular a pegada ecológica global.
Em 2014, estimou-se que a pegada ecológica global era de cerca de 20 bilhões de hectares, o que corresponde a uma Terra e meia. Isso torna muito evidente nossa insustentabilidade. Obviamente, não temos uma Terra e meia. Evidentemente, mesmo que nossa pegada ecológica fosse uma Terra, ainda seríamos insustentáveis, porque o planeta Terra deve manter não somente nossa espécie. E antes de nutrir esperanças de que poderíamos encontrar outro planeta para viver, convido o leitor a pensar não somente na improbabilidade de que seja encontrado algum lugar para ir a uma distância viável, mas, para além disso, em quem serão os “escolhidos” para colonizar outro planeta. Ou alguém acha que 7 bilhões de humanos seriam translocados para algum outro lugar?
Um
modo interessante de entender a relação entre nosso estilo de vida e sistema de
produção e consumo, de um lado, e sustentabilidade, de outro, é cruzar dados
sobre pegada ecológica com dados sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Usemos esse gráfico para pensar o
chamado desenvolvimento sustentável. O desenvolvimento sustentável pode ser
considerado um oxímoro, figura de linguagem que relaciona numa mesma expressão
palavras que exprimem conceitos contrários. Para alguns, o conceito de desenvolvimento
sustentável esvaziou os debates sobre as questões ambientais ao produzir um
superficial consenso. Como seria possível desenvolvimento sustentável numa
humanidade com pegada ecológica de uma Terra e meia? Desenvolver com sustentabilidade
em tal situação? Claramente isso é impossível se desenvolvimento corresponder a
crescimento econômico! Lovelock pode muito bem estar certo ao afirmar que
somente podemos conduzir nosso sistema de produção e consumo para um retrocesso sustentável. Ou a alternativa pode
ser promover desenvolvimento sem crescimento econômico, o que implica distribuir
benefícios de maneira mais igualitária.
No gráfico acima, podemos ver, à
primeira vista, como o conceito de desenvolvimento sustentável poderia ser
operacionalizado. Vejam o quadrado verde na base direita do gráfico, que indica
como poderíamos ser sustentáveis: pegada ecológica abaixo de uma Terra e IDH
acima de 0,8. Mas não há qualquer país nesse quadrado verde! Assim,
tratar-se-ia mesmo de operacionalizar desenvolvimento sustentável ou de
reforçar que se trata de um oxímoro que pauta um consenso sem consequências?
Para falar de modo muito simples e direto, esse gráfico mostra que nossos
sistemas de produção e consumo só têm dois atratores: ou não se tem qualidade de vida (falando de modo bem
cru, se morre de fome) e se é sustentável, ou se tem qualidade de vida (sendo
bem claro, mais do que se precisa) e não se é sustentável.Não conheço
melhor evidência da necessidade de mudarmos nossos sistemas de produção e
consumo.
Também fica claro nesse gráfico como
não temos ainda qualquer indicação sobre qual seria o sistema de produção e
consumo para onde deveríamos ir. Isso é importante, de um lado, porque indica que
devemos de fato atentar à natureza autocontraditória do desenvolvimento
sustentável e aos seus efeitos de esvaziamento dos debates sobre questões
socioambientais. De outro, mostra que não se trata de pensar numa opção entre
diferentes sistemas de produção e consumo que estariam colocados, mas de
repensar mais profundamente as condições de nossa existência no planeta. Ao
polarizarmo-nos em nossas posições políticas, podemos estar simplesmente
perdendo de vista o quadro mais geral do mundo (the big picture).
Concluindo: o que fazer?
No
último fim de semana, num evento de passarinhada promovido pela Macaw
Birdwatching no Vale Encantado, aqui em Salvador, fiz uma pequena
fala em meio à restinga e um dos participantes (obrigado pela questão,
Chermont!) perguntou “o que a gente poderia fazer?” A pergunta se situava
localmente, mas as conexões entre contextos locais e globais, num mundo de
problemas na escala planetária, autorizam a pensá-la globalmente. É uma
pergunta muito importante, porque é sobre esperança e sobre não nos sentirmos
impotentes: o que podemos fazer diante de tudo isso? Gostaria assim de fechar
este texto com algumas sugestões em resposta a essa provocação.
É
importante, antes de tudo, que não deixemos de lado a racionalidade. Ela nos
define como humanos. Quem abandona a racionalidade, abandona a humanidade. Por
racionalidade, entendo aqui a atitude de não aceitar qualquer afirmação que se
faça sobre o mundo sem apreciar as razões que apoiam a afirmação e as fontes de
confiança nas informações mobilizadas para sustentar tais razões. As razões são
muitas e sem dúvida não são apenas científicas, tampouco são apenas empíricas
(não vêm somente da experiência), mas quando se trata do mundo natural, as
evidências que temos disponíveis são uma razão muito importante para aceitarmos
afirmações a seu respeito. Nesta postagem, abordei algumas dessas evidências
(na verdade, a ponta de um iceberg). Uma pessoa racional respeita as evidências
ao pensar sobre o mundo natural. A evidência é para ela um sintoma, um sinal,
uma marca da verdade. Assim, uma primeira atitude que cada um de nós pode ter
é, em vez de cair vítima da desinformação, hoje muito ruidosa nas correntes de
Whatsapp e em outras redes sociais, buscar informação, assegurar-se das fontes
de informação em que decidimos confiar, saber do que está ocorrendo da maneira
mais completa possível.
Devemos
também nos perguntar o que podemos fazer, que diferença podemos representar em
nossa realidade próxima, nosso bairro, nossa cidade, escola, universidade,
nosso trabalho, nosso país. Agindo localmente e pensando globalmente, sendo
capazes de ver o quadro mais geral do mundo, podemos fazer diferença. São
questões para nosso dia-a-dia: O que mudar em nosso estilo de vida de modo a
contribuir para um mundo melhor? O que mudar em nossos padrões de consumo? O
que mudar em nossa alimentação? O que mudar na educação de nossas filhas e
filhos?
Mas
devemos estar cientes de que não basta agir em nossas vidas individuais.
Precisamos pensar o que fazer coletivamente, e então agir politicamente, por
exemplo, buscando ser fontes de informação nesse oceano de desinformação em que
o Titanic naufraga. Por exemplo, contribuindo para pressionar nossos
governantes a tomar atitudes e decisões que favoreçam a conservação do planeta,
a sobrevivência da biosfera e nossa própria. Não se trata de ação partidária,
para impedir ecos indevidos nesse país em que hoje vivemos. Agir politicamente
é agir como cidadão. A palavra ‘política’ vem do grego polis, o que
sugere que ser cidadão é discutir os problemas de nossa cidade, para nós hoje,
nosso mundo, e agir em relação a eles. Qualquer um faz e deve fazer política, e
isso não implica agenda partidária alguma, ao menos não necessariamente. Como a
palavra “cidadão” se tornou desgastada, de tanto ser usada sem significado
claro, devo dizer como a entendo, na esteira do que diz Henry Giroux: um cidadão é um agente moral e
político que possui um sentido compartilhado de esperança e responsabilidade em
relação aos outros, não somente em relação a si mesmo.
Para
dar apenas mais uma sugestão, esta relativa a como educamos nossos filhos e
filhas: propiciem a eles experiências de natureza! Levem-nos a restingas,
florestas, praias conservadas, caatingas, cerrados, campos rupestres, não
deixem que cresçam achando que leite se faz na prateleira do supermercado, ou
sem saber que sem abelha não tem fruta, legume ou vegetal! Uma série de estudos
tem mostrado que experiências de natureza são importantes preditores de uma
atitude pró-conservação, esta de que tanto necessitamos se formos mesmo
sobreviver. A separação das pessoas em relação à natureza, nos ambientes
urbanos, mas também em ambientes rurais degradados, explica em boa parte a dificuldade
que muitos enfrentam para entender o quadro geral em que nos encontramos, o
estado do planeta e as atitudes e decisões que ele de nós demanda. Não deixem
que suas filhas e filhos se somem à multidão dos desconectados da natureza. Ou
que se somem aos consumidores e propagandistas da desinformação!
Para a maioria das pessoas, as moscas causam apenas
uma reação: nojo. De fato, não há como negar que esses insetos sejam asquerosos.
Eles entram em seu lixo, passeiam pelo esgoto e cadáveres –como discutido em um
texto
recente do Darwinianas– e regurgitam em tudo. Por causa
dessas excursões por locais peculiares, ficam cobertos de bactérias e outros
patógenos para depois andar com suas patinhas sujas por toda a sua comida. Pois
é, as moscas são realmente nojentas, mas é justamente a atração desses insetos
por material em decomposição que faz com que suas larvas sejam benéficas para a
saúde humana.
Feridas crônicas podem se desenvolver em pacientes com diversas condições, como diabetes ou doença vascular, por exemplo. Essas feridas podem ter tecidos necrosados e infectados, e muitas vezes se tornam úlceras sem cicatrização –desesperadamente desagradáveis para os pacientes que sofrem com elas. Em muitos casos, essas feridas podem piorar e resultar na amputação de partes ou mesmo de membros inteiros. No entanto, a aplicação de larvas (esterilizadas) pode reverter esse quadro. Quando todos os outros tratamentos falham, larvas de moscas em seu primeiro instar (larvas recém-nascidas) podem transformar, em poucos dias, uma úlcera estagnada em uma ferida limpa e saudável em processo de cicatrização. Esse tratamento alternativo é chamado de terapia larval, biocirurgia ou larvoterapia. A terapia larval é uma opção de atraente de desbridamento (remoção do tecido necrótico e outros resíduos de uma ferida) porque as larvas utilizadas para fins clínicos comem apenas tecidos mortos e deixam o tecido vivo intacto. Todos os outros procedimentos de desbridamento inevitavelmente destroem parte do tecido vivo.
O uso de larvas para o desbridamento de feridas difíceis
e crônicas não é uma ideia nova. Os aborígines
australianos já usavam larvas para limpar feridas há séculos,
mas as larvas passaram a ser apreciadas universalmente somente após algum
tempo, quando os cirurgiões militares notaram que os soldados com feridas
infestadas por larvas apresentavam uma melhor e mais rápida recuperação.
Ambroise Paré foi um cirurgião-barbeiro que serviu no exército francês e fez um
dos primeiros
relatos sobre o benefício das infestações durante a batalha
de St. Quentin, em 1557. Em 1829, o cirurgião de campo de Napoleão Dominique
Larrey também observou os efeitos
benéficos das larvas em ferimentos sofridos por
soldados durante uma expedição à Síria. Ele notou que as larvas que se
desenvolviam em ferimentos sofridos em batalha impediam o desenvolvimento de
infecções e aceleravam a cura. Não há evidências, no entanto, de que Paré ou
Larrey tenham introduzido larvas nas feridas de seus pacientes deliberadamente.
Isso só aconteceu quando John Forney Zacharias, um cirurgião de Maryland
durante a guerra civil americana, iniciou oficialmente a terapia com larvas,
que ele explica ter salvado muitas vidas. Mais tarde, durante a Primeira Guerra
Mundial, William Baer observou que as larvas auxiliavam na cicatrização de feridas
e desenvolveu com sucesso um método
para produzir larvas esterilizadas que não
disseminariam infecções. A terapia foi amplamente utilizada até depois da
Segunda Guerra Mundial, quando houve a descoberta de antibióticos e o
desenvolvimento de melhores técnicas cirúrgicas, que deixaram as larvas em
segundo plano, utilizadas apenas como último recurso.
O interesse renovado na terapia larval foi
desencadeado com ocorrências generalizadas de “superbactérias”,
resistentes a diversas classes de antibióticos. Por exemplo, a bactéria que
ocorre mais comumente em feridas, Staphylococcus
aureus, adquiriu resistência
à meticilina em 1961, dois anos após sua introdução
como substituto da penicilina. A evolução da resistência a antibióticos levou a
um aumento do tempo de hospitalização e tratamento de pacientes com feridas
crônicas. Como resultado, desde 1990, as larvas voltaram a ser utilizadas no
tratamento de certas feridas que, de outra forma, seriam intratáveis. Suas
secreções são eficazes mesmo contra S.
aureus resistente a antibióticos. As célebres larvas também atuaram no
filme Gladiador (2000). Em uma das cenas, o protagonista desmaia
após ser ferido em uma batalha e, quando ele acorda, encontra sua ferida cheia
de larvas aplicadas por um amigo. As larvas limparam a ferida também na versão
cinematográfica da terapia larval. Em 2004, o FDA (“Food and Drug
Administration”) aprovou o uso de larvas estéreis em aplicações médicas nos
Estados Unidos.
As larvas usadas na terapia geralmente pertencem a
espécies de moscas varejeiras (apresentadas em texto sobre Entomologia
Forense aqui no Darwinianas), como a Lucilia sericata. No Brasil, larvas de Cochliomyia macellaria também estão sendo
testadas para o mesmo propósito. Essas larvas alimentam-se
exclusivamente de material orgânico em decomposição e se afastam de uma ferida
quando há apenas tecido saudável. Elas também são fáceis de cultivar em
condições estéreis e são relativamente resistentes (podem ser resfriadas e
armazenadas a 5°C). Cerca de 10-20 larvas esterilizadas são aplicadas por
centímetro quadrado de ferida. Como as larvas de moscas são altamente móveis,
há necessidade de contê-las em um curativo especial que lhes permite alcançar o
tecido a ser tratado, mas impede que saiam da ferida. O progresso do tratamento
é verificado diariamente, e as larvas são trocadas pelo menos a cada três dias
por causa de seu rápido crescimento e ciclo de vida curto em temperaturas
corporais humanas.
As larvas limpam o tecido necrótico com uma grande
velocidade, apesar de não possuírem dentes. Elas secretam enzimas proteolíticas
digestivas para liquefazer o tecido necrosado que servirá para sua alimentação.
Juntamente com as enzimas, as larvas secretam outras moléculas com papel ativo
na cicatrização da ferida: fatores estimulantes do crescimento celular, fatores
antimicrobianos e fatores antiinflamatórios. A rápida melhora no quadro se dá
então pelas diferentes atuações da larva na ferida. A alimentação competitiva
das larvas das moscas varejeiras remove rapidamente a fonte de alimento das
bactérias e muitas delas são digeridas no processo. A remoção do tecido morto
também permite uma melhor difusão do oxigênio nos tecidos saudáveis, o que
impede a proliferação de bactérias anaeróbicas. Elas também secretam fatores
antibacterianos e antifúngicos eficazes
contra inúmeros patógenos, incluindo cepas resistentes a antibióticos. Além de
combater a infecção, as secreções larvais também induzem a migração de
fibroblastos, proliferação e remodelação do tecido, acelerando a recuperação. Finalmente,
as larvas podem promover o crescimento do tecido por meio da estimulação física
do tecido da ferida. O movimento ajudaria o fluxo das secreções das larvas e a
quebra mecânica do tecido morto.
Todos esses processos se tornaram alvos para desenvolvimento
de produtos biotecnológicos. Max Scott, da North Carolina State University, por
exemplo, aposta na nova geração da terapia larval, combinando a atividade das
larvas na ferida à atuação do fator de crescimento humano derivado de plaquetas
(PDGF). Ele e sua equipe geraram uma
linhagem de L. sericata transgênica
que produz e secreta o fator de crescimento humano. O PDGF estimula a
sobrevivência celular, a proliferação de fibroblastos e a quimiotaxia,
reorganização da actina e produção e secreção de outros fatores de crescimento.
Sua produção torna a larva ainda mais eficiente no desbridamento. Mesmo os
estudos básicos sobre a biologia e evolução do hábito alimentar em
Calliphoridae realizado pelo nosso grupo, em colaboração com a Profa. Patrícia
J. Thyssen na Universidade de Campinas, contribuem para a compreensão dos
mecanismos moleculares subjacentes às preferências alimentares e dinâmica na
ferida. Ensaios de preferência alimentar nos permitem escolher, dentre as espécies
de Calliphoridae, aquelas que se alimentam exclusivamente de tecido necrosado,
sem invadir o tecido sadio, enquanto nossa análise da expressão gênica nas
larvas pode revelar proteínas secretadas com potencial terapêutico. Essas
proteínas larvais podem ser estudadas para o desenvolvimento de pomadas para
desbridamento, sem a necessidade da aplicação das larvas, que ainda encontra
uma certa resistência de profissionais de saúde e do público em geral. Enquanto
as pomadas não chegam ao mercado, as larvas funcionam como dispositivos médicos
em miniatura com o poder de ajudar a curar e livrar muitos da carga dolorosa e
incapacitante de feridas crônicas.
Nesse artigo,
os autores revisam a literatura sobre terapia larval, apresentando a aplicação
de larvas como alternativa para cicatrização de feridas. Um dos objetivos dos
autores é desmistificar a modalidade terapêutica e estimular profissionais da
saúde a aplicá-la em larga escala.
Revisão
dos estudos clínicos controlados que testaram a eficácia da terapia larval.
Pelos dados clínicos levantados há consenso de que o uso das larvas é efetivo
no desbridamento. As evidências clínicas para a cicatrização acelerada de
feridas são escassas, mas estudos clínicos pequenos sugerem fortemente que as
larvas realmente promovem o crescimento de tecidos e cicatrização de feridas.
Programa mostrando a utilização da terapia larval. O
vídeo contém cenas reais de larvas sendo aplicadas em uma ferida. Essas cenas
podem ser desagradáveis para alguns espectadores.
O que têm a ver os microrganismos do Ártico com uma bomba relógio? Descubra neste post do Darwinianas.
Já tratei em posts anteriores
da grande importância que os microrganismos têm nos solos em escalas globais e
locais. No post de hoje vou dar um pouco mais de ênfase a uma combinação
explosiva: o derretimento do gelo dos solos do Ártico (conhecido como
“permafrost”, em inglês) e as atividades dos microrganismos que ali
vivem congelados. Já se fala em cenários apocalípticos (inclusive foco de um documentário), concentrações crescentes de gases estufa que irão
gradativamente descongelar mais e por mais tempo os solos do Ártico, e que
haverá um ponto no qual isso causará o aumento abrupto desses gases, levando a um
ciclo de retroalimentação positivo de aquecimento em proporções apocalípticas.
A esse fenômeno é dado o nome de “bomba de metano”.
Muito se fala sobre a emissão de CO2 pelo ser
humano e os impactos dessas emissões nas mudanças climáticas, mas é importante
reforçar aqui que o metano é um dos
gases que têm maior
potencial de efeito estufa. O metano é produzido em
grande parte como “resíduo metabólico” da respiração anaeróbica de
microrganismos. Esses microrganismos do Domínio Archaea (ver post
anterior para relembrar o que é esse Domínio) são conhecidos como
metanogênicos. Muito se fala também sobre a contribuição
do gado, através dos seus puns, como importante fonte de metano
para a atmosfera. No entanto, um grande problema que está deixando cientistas
de cabelo em pé é o derretimento mais acelerado dos solos e lagos do Ártico.
Estima-se que 50% do carbono orgânico presente no solo esteja nessa região do
globo, que representa apenas 16% da área da Terra. À medida que mais metano é
liberado para atmosfera, o efeito estufa aumenta e mais permafrost é descongelado, liberando mais metano… esse ciclo se
repete, porém com um detalhe: pode haver um ponto no qual a liberação desse metano não seja mais
gradual, liberando quantidades muito grandes de metano, e passe a provocar um
aumento drástico e irreversível de temperatura.
Em um estudo
recente publicado na prestigiada revista da Academia Norte-Americana de
Ciências (Proceedings of National Academy
of Sciences, PNAS) coordenado por Konstantinos T. Konstantinidis, os autores
mostraram que, de fato, com o aumento da temperatura, microrganismos que
produzem metano se proliferam. Os autores utilizaram uma abordagem experimental
amostrando solos durante mais de 3 anos e experimentalmente os aquecendo. Os
autores observaram que as mudanças nas comunidades nos 4 anos e meio de estudo
foram bem maiores do que as que foram observadas anteriormente em 1 ano e meio
de estudo. Além da proliferação de microrganismos produtores de metano em solos
aquecidos (comparados com os não aquecidos), há maior potencial de respiração
da comunidade microbiana de solos aquecidos. Isso quer dizer que o carbono
orgânico presente nesses solos poderá ser convertido em CO2 mais
rapidamente e liberado para a atmosfera, aumentando ainda mais o efeito estufa.
Estamos atravessando um momento crítico na história da humanidade. Se a
bomba de metano “explodir” de fato, como vários cientistas estão
prevendo, os danos serão gravíssimos para a geração dos nossos filhos, e não
daqui a 200 ou 300 anos. Não dá tempo para errar no que diz respeito a nossa
sobrevivência, por isso penso que projeções como essas, sustentadas por fortes
evidências, devem ser levadas a sério e uma escolha parcimoniosa deve ser
feita, ou seja: remediar imediatamente, reduzindo as emissões de carbono e
aumentando o potencial de sequestro de carbono, preservando áreas conhecidas
como sumidouros de carbono, como manguezais bancos de gramíneas marinhas.
Pedro Milet
Meirelles
Laboratório de Bioinformática e Ecologia
Microbiana